Ouço
vozes:
pedem água
sem espinhos
árvores
sentadas nos braços
um garfo
estendido no dorso do gato.
Ouço
vozes:
às vezes,
apenas um rumor
outras, trovões
que esventram a manhã
em conspirações
sem tutor.
Ouço vozes:
as palavras
indiferenciadas
as palavras
cuidadosamente detidas
o amontoado
que se refaz numa frase.
Ouço as
vozes:
as doces
melodias balbuciadas
as dos contramestres
em terra
as de cuidadosos
assaltantes da angústia.
Ouço as
vozes:
às vezes,
um latido ao longe
que faz da
noite sua refém
no desembaraço
do sono estilhaçado.
Ouço às
vozes:
um encanto
um porventura
um porém.
Ouço às
vozes:
deslamento
desalinhar
dissidir.
Ouço com
as vozes:
o triunvirato
das páginas entre mãos
a espera
da madrugada vindoura
o sorriso
farto sem peias.
Ouço uma
voz:
telúrica
demiúrgica
ecoante.
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