11.1.18

Inteiro

A casa ordenada
pela ordem que quisermos:
as flores arqueadas sobre a janela
os copos pendidos no alpendre
o mar vertido pelas mãos nossas
as paredes aquecidas por beijos
um mapa-mundo
– o meu corpo-lugar
espelho do desejo
onde proibidos são os freios;
e as páginas não esquecidas
as palavras que não ditam adiamentos
as juras não sufragadas
a claridade estendida no vagar do céu
onde tomamos lugar,
suas exclusivas estrelas.
Apertamos os corpos
contra as tábuas maduras do tempo
e as mãos
como se percutissem nas teclas de um piano
desenham os versos tirados ao fundo da alma.
Os versos que devolvem a nada o ouro.

E somos de uma altura magnífica
– se quisermos: deuses de nós mesmos –
na improvável paleta de cores
no murmúrio encantador
na música que costura os violinos
na macia pele que há em nós.

Já sabemos o que é o nada
por sermos arquitetos do tudo.

Na enseada alisada pelo sol poente
deixamos uma nesga do olhar.
Os lençóis sem rumo
identificam os corpos trespassados
na combustão etérea.
Resgatamos as nossas assinaturas
como se precisa fosse a voz altiva
um pedaço do peito franco,
entreaberto,
como as janelas se abrem,
ímpares,
ao delicodoce desassossego que trava o torpor.

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