Começo
como se o olvido fosse proverbial:
como se fosse virgem a manhã
e de vésperas não houvesse vencimento
latitude com fim a começar no início.
Como se fosse
o esvaziar de todas as medidas
e do tempo houvesse apenas
o meteorológico,
sem notícia do restante
numa mão baça
deitando-se sobre a ponte levadiça da memória
transfigurada em desmemória.
Começo
por esquecer os idiomas
as telhas gastas onde toda a chuva se adulterou
as próprias telhas com a cor adulterada
pelo sol incisivo;
e esqueço
em socorro da memória seletiva
os alçapões
as visitas arrependidas
os poços sem fundo
os pesadelos sem freio
a incrível dor da impureza
(ainda mal refeita das recentes novas
que anunciam a impureza
como medula dos arrogantemente imperfeitos
humanos)
e até
a traição ao ser que se é
quando a memória é açambarcada
pelo desonroso esquecimento.
Os programas não passam de intenções
sem chão para se tomarem por raízes;
ou as intenções
não chegam sequer a ser programas.
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