6.3.20

Do embargo

Não sei do embargo
das lágrimas sem curso
dos verbos estilizados
do caudal sem sombra
da matéria fecunda hasteada
do jogo onde se terçam os desejos.
Do embargo
com que sou entronizado
num lugar sem terra,
as quimeras desenhadas 
numa tela sem amperes
num lugar
onde se desembainham os rostos
em miragens que se não gastam
em maresias que aterram em meu colo.

Digo do que disse
o mesmo que hei de dizer
quando o tempo a haver
for tido como prenda da memória.

Digo o que digo
o que for sem o embargo da prevenção
e invento a gramática a dedo
meticulosa
irreparável
maravilhosamente devastadora.

Já sei do embargo
de tudo a que ao embargo se dá
e não dou ao coldre
a menor impressão de medo
a menor impressão
do arrependimento de ser o que vim a ser:
ao abate 
entrego as memórias sem paradeiro
os apeadeiros a que não fui
as palavras que fiquei por dizer
esta ociosidade dilacerante
os adiamentos sem agenda
o eu que não quis ser.

Não me cabe
o embargo 
de ser embargo de mim mesmo,
descategoria operativa
nos quintais férteis, 
ávidos,
povoados pelas árvores de fruto
e por sua maré odorosa. 

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