22.3.20

Desconvocatória

Amarrei o mandato
ao lingote das dunas
a musa não processada 
no estio das vinhas.

A fúria sem remissão
arrancou os verbos
e no armário gasto
amanheci em maré pródiga.

Dizia o mealheiro
que o devir não compensa
antes que seja cumprida
a enciclopédia do possível.

Não concordei com o propósito
com os sacerdotes da desimaginação
e em imaterial demanda
supliquei do sangue a ambição.

Na varanda da comiseração
desfilavam os miseráveis
desdentados e tudo
e eu sabia-os empenhados à mofina.

Da acusação de ilegitimidade
padeci durante um lustro
e não me importunei
pois os acusadores seriam suas vítimas.

Em vez do mandato
escolho as uvas doces
gatos rebeldes
e o murmúrio amado no torpor da manhã.

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