4.3.20

Coiote

O pobre coiote
sempre derrotado
sempre espalmado
ou tisnado pela dinamite 
ou eletrocutado por uma aleatória trovoada

(sorte a dele: 
em crédito 
tinha mais do que sete vidas)

faminto,
incapaz de aprisionar o pássaro. 
O pobre coiote
no papel de caçador
sem arcar com o estigma da maldade,
metáfora intransitiva da desrealidade:
ao contrário das fábulas contadas aos infantes,
e em contravenção do imaginário da sétima arte,
nem sempre tudo se reduz
à binária lente dos bons e dos vilões. 
Essa 
é a melhor metáfora da aprendizagem
dos infantes

(e mnemónica dos pós-infantes):

Num teatro sem vilões
uma personagem é castigada 
com um deserto de sorte. 

Sem comentários: