16.3.21

18:34 (17:34 nos Açores)

Esta é a ponte sem abismo

o logotipo dos amadores

verbo ajuramentado no colóquio dos eruditos. 

 

Este é o degrau rombo

na escadaria dos ilustres

em falta a passadeira vermelha

e o acetinado tecido da cortina

que desce sobre a cena,

cobrindo-a com o fim. 

 

Este é um lampejo de lucidez

a fria matéria campestre 

no algoritmo dos amanuenses

distopia contra os madraços da folia. 

 

Esta é a folha em que maceram

à espera de dia nenhum

andaluzes alfarrabistas de livros sem edição

os milhafres que espiam a sombra escassa

no auge do Verão. 

 

Esta é a geografia distante

uma paisagem lunar que se agiganta no mapa

atirando o olhar contra o nanismo dos seres

enquanto coiotes febris procuram o coldre

e as presas emudecem no crepúsculo. 

 

Este é o contrabando que dissolve as almas

penhores inválidos de um oráculo dispensado

enquanto às mãos dos marinheiros

vem uma esfíngica bailarina 

em forma de estatueta de cera

(quando sereias tinham sido prometidas).

 

Esta é a pergunta sem fronteiras

o contrabando da lógica

em passarelas de nevoeiro

que pedem um arnês. 

 

Esta é a pose senhorial

o esfíngico balbuciar de impropérios

no amuralhado silêncio

contra os mastins que a fala adulteram. 

 

Esta é a pista venal

o rosto lodoso, irrepresentável,

o cerco tentacular à adivinha sem resposta

o pulcro que espera pela prescrição. 

 

Este é o diadema sobrante

o tiro de partida para a decadência

no alistamento de muitos

e resistência de uns poucos

na haste visível de um minarete de ouro

enquanto o vento traz o perfume do rio

que se espalha pelos interstícios da cidade

e se abraça ao dia vindouro. 

 

Este é o espelho

antes de ser estilhaçado

pela força centrífuga de um sismo

o espelho agora despedaçado

fronteira renascida

à espera do rastilho da maré. 

 

Este é o pinheiro matricial

o bravo escudeiro dos sublevados

bandeira hasteada no pórtico da ponte

que não esperou pelo abismo.

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