Disponho o estuário
no rumorejo que se distingue
do silêncio estival.
É o tempo
da avença sem espartilho
o lado obscuro
que amanhece no avesso da fala.
Não me digam
que acabaram os comboios no apeadeiro;
não me digam
que sobrou o princípio geral do adiamento;
não me digam
que a vontade foi contrabandeada
e dos rostos sobrou
a melancolia.
Participo uma intenção:
quero com uma mão
abraçar o mundo inteiro
ter a distância incalculável
à mercê de uma régua
feita dos meus dedos.
Não são as tempestades
que desarrumam a intenção,
não!
Povoo a paisagem
como um arco-íris
arrancado a uma aguarela;
vejo-me parte integrante da paisagem
muito mais do que um esboço
que se divide
com uma clepsidra arcaica.
Se os versos dizem os espelhos claros
sou a luz não fortuita
que se deita sobre o dia:
e deixo que o dia
se alimente do meu húmus,
deixo
que os deuses adormeçam
sob as vaias dos ingratos
e a vigia dos lutuosos
– para depois
ajudando a maré a ficar alta
entrar pelo portão coroado de nada
poeta dos silêncios desarmados
proémio do corpo descarnado,
as vírgulas todas à mostra
e o estuque
em estilhaços a fazer de cama
aos seráficos
que se arrastam pelo entardecer.
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