24.3.21

Papel por gastar

As recordações do futuro 

– dizias, 

mastigando os despojos de um dia

que parecia o disfarce do tempo.

A boca murmurava os hábitos

e as páginas precisavam de aval

para serem levadas a sério.

 

Não tenho um oráculo 

– dizia,

olhando para a escotilha

que vigiava o mar errático.

Os gatos apreciam a noite

e as sentinelas não se apagam

no crepúsculo kamikaze.

 

Acredito no futuro flamífero 

– dizias,

enquanto atiravas fósforos

contra as montanhas que se levantavam

perto do posto de vigia

mesmo na embocadura do nevoeiro.

 

Não sei dos fogos vindouros 

– dizia,

desde o palácio dos frutos prometidos

dando água aos poetas

que não capitulavam aos barbantes 

das almas aprisionadas por dentro de si.

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