4.3.21

Fogo cruzado

Disponho os garfos fundentes

na mnemónica das mãos quentes

e faço da reserva mental,

com o aparato da discrição,

a água que emerge da maré.

 

Não sei quantas balas preciso

para o tear da paz;

desconfio que sejam muitas,

incontáveis balas,

murmura o engenheiro da sabedoria

enquanto à minha volta

não vejo rostos nem sinto nomes.

 

Revejo expressões idiomáticas;

são tão irrisórias

que mais deviam ser

expressões imbecilocráticas.

 

Lá vêm as balas

cobertas com o bolor dos arcanos

rangendo metáforas demenciais

convencidas que falam mais alto

do que as palavras.

As balas caem no vazio.

Espera-se que a sua quentura

seja o lugar-comum que sepulta

os estultos.

 

Deste fogo cruzado

não quero participação.

As vítimas inocentes,

uma contradição de termos,

são incineradas no vagão ferrugento

que desaprova a lucidez.

São a prova do bestiário 

que é o palco do mundo.

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