2.10.18

Domingo farto

E se fosse confisco
a arte de entreter papalvos?

(Pois os papalvos
credores são 
de emagrecidas alcavalas.)

Estendiam-se mantas
atapetadas por egrégios manjares
sempre na mesmice da ementa
em margens debruadas a purulência
os copos servidos do vinho modesto

(e portanto abundante)

nos lírios deleites de música festiva
estridentemente de enfiada
pela goela auditiva
antes de os sentidos embaciados
serem tomados de assalto pela sonolência
e as proeminentes carnes e pilosidades
e o encardido dos membros
em exposição
coroassem o grotesco. 

À noite
depois de viagem não linear
e na companhia
da consorte amuadamente emudecida

(por um olhar inocentemente maroto
arpoado na direção de uma desvergonhada
ainda por cima 
de carnes mais avantajadas)

da prole que tem pilhas sem fim
da vizinha 
que sobrou nos despojos casamenteiros
suspirando e suspirando 
no dorso dos sonhos sem correspondência
e ele 
salivando impropérios a outros da mesma igualha
e depois de brevemente estacionar na berma
e, contristado, arrotar 
que o acidente de viação foi uma desilusão

(por falta de sangue)

entreolha-se no espelho
puxando as adiposidades 
no sentido oposto da força de gravidade
coçando as irritações cutâneas
no dealbar do descuido da exposição solar
tentando dar corda à teimosa cefaleia,
pergunta
por que têm de ser assim os domingos
e adormece antes que a voz murmure
que assim é
porque tal é o imperativo das convenções.

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