Veredicto:
o impensável estiolar da abóbada
que encima o pensamento
é a alfândega das palavras.
Crestam ideias
fervilham no mapa desembainhado
e afivelam-se,
exauridas,
no corpo gasto das negações.
As sílabas vagarosas não ajudam.
Diz-se
que meteóricos pensares
não são bons conselheiros;
com o arrastar das sílabas
sobra o mosto árido
o papel onde assenta o desperdício
a espetacular falência do entardecer.
Procuro uma prova de vida.
Procuro uma pétala perdida
o despontar da manhã radiosa
(ou não: apenas um despontar)
um caldeirão em ebulição
a mesa rasa sem cadeiras à volta
o silêncio
a troça dos solenes
a visível aurora empenhada
a intervenção sem mediadores.
Conjugo o verbo no tempo certo.
Julgo
que conjugo o verbo no tempo certo.
Na encruzilhada de imagens
deixo as palavras emaranhadas
um hábito por fazer
com a ajuda de improváveis estetas.
Atiro a perfídia ao ar
como se fosse moeda avulsa
e junto com as mãos húmidas
os destroços da ousadia.
Não sei mais nada.
Não quero saber mais nada.
E todavia sei que é pouco
muito pouco
tudo o que sei:
por mesmo o que julgo saber
não ter rima com o conhecimento
sob os auspícios do que não sei desconhecer.
São imprestáveis
as palavras assim ditas.
Abatem-se como trovoadas medonhas
ou como sismos apocalípticos
desmentindo tudo o que esteja à volta
– até o desconhecimento
que se desconhece.
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