5.10.18

Mal menor

A testemunha amordaçada
na celebração dos bacantes
espera no escuro.
Estranhamente calma.
Não vê:
não pode ser testemunha.
Sente o ruído à volta
as movimentações (conspirativas)
uns vagos reflexos de sombras
acertando contas com a rosa dos ventos.
Fala-se um idioma que não conhece
vozes masculinas e femininas
umas infantis;
uma pessoa junto de si
ajusta a venda que embacia o olhar
a pessoa exalando um odor pestilento.
De repente,
ninguém sobrou.
Não sabe se foi ato contínuo
ou se esteve inanimada no entretanto
(o lugar ficou vago num ápice).
As mãos já não estão amordaçadas.
O que quer
é desvendar os olhos
voltar a ser o epicentro da sua vontade.
Não há ninguém à volta.
Nem vestígios da presença de alguém.
O lugar parece ermo
como se fosse 
um lugar virgem ao conhecimento humano.
Ao menos
a testemunha de coisa nenhuma
já não está amordaçada.
É um começo.
Um começo preferível
a continuar amordaçada.
Mesmo que agora 
a percorra um medo intenso
por não saber do seu próprio paradeiro.

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