11.11.16

Alfaiate

Um aplauso mortífero
das noivas ululantes em fúria noturna
dos cães vadios em peregrinação errante.
Dizia:
“não quero mais nada”
e eu não sabia o que tanto tinha
para mais nada querer.
Talvez fosse modéstia
ou apenas a ciência do desprendimento;
assim como assim
tinha acabado o combustível das palavras
e as fontes secas não eram bom presságio.
As mãos à cintura
em pose triunfal
esquadrinhavam o desejo das areias lúcidas,
das areias puras sem pedras por perto.
Um volante podre perdido nas dunas
deixava ao de leve um museu de desalojamento
como se as areias não tivessem fim
e uma lareira ardesse por dentro do peito.
Regressava ao aplauso,
talvez sentido sua falta
(ele dantes dispensado).
Uma rosa-dos-ventos com o pé partido
queria girar sob a força do vento:
a decadência não deixou;
a última nesga de metal sem ferrugem
foi contaminada
e a rosa-dos-ventos soçobrou.
Amanhã
terminado o tirocínio das nuvens
talvez
voltem os aplausos incendiários
as areias calmantes
um volante restaurado
e uma rosa-dos-ventos nova em folha.
Talvez.
Sem aplausos.

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