Dantes
quando as mãos
tenras
se alisavam no
poço negro
tudo tinha a
espessa candura
dos imprudentes.
Aprendia
ao remar no
sentido dos desacertos
sem supor que as
coisas se pensavam.
Dantes
quando os fumos
se vestiam de cores
e as árvores
pareciam não ter outono
a pele imberbe
era destravão da inocência.
Imaginava amanhãs
sem mácula
amanhãs que
começassem por tardes
sem enxovais nem
baixelas
sem o tirocínio
do erro
sem as nuvens
embaciando os palcos.
Amanhas despidos
por dentro
como se desse
tempo por acontecer
guardasse um
penhor sentido.
Dantes
guardava a
certeza
de que um agora
seria dissidência.
Ocupava os lençóis
com sonhos de
que teria sonhos
com os dantes de
louvor.
Medro num agora
complacente
onde as paragens
do tempo
retorcem as vírgulas
deixadas em legado.
Agora
tenho as mãos
quentes
o vinho excelso
arroteio teses
respeitáveis
admiro as
cortinas onde se entretecem
os entardeceres
que insinuam a demora.
Agora
certifico que
desimportam os dantes
assim desenhados
assim desdenhados.
Agora
devolvi os
dantes à arqueologia da indiferença.
Julgo que é
prova de vida
no entardecer
que se agiganta
na garganta do tempo.
Ainda estou por
saber
se me empenho nos
agoras que descem às mãos
ou se apenas me
inclino sobre o dorso deitado
só para não ter
de ver o mar que aí vem.
Só para
desaproveitar
os dantes que
pudessem ser lições.
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