20.11.16

Quintessência

Sempre considerei o suor.
Desviei das nuvens a bala perdida
(não fosse atingir o sol,
para tristeza acelerada de uma multidão).
Agarrei com os olhos o creme do bolo
(não fosse perder as bainhas da dieta).
Alcancei com brevidade
as ilhargas dos homens poderosos
(ou convencidamente poderosos)
e continuei a ver o que dantes via.
Escutei demoradamente
as músicas aconselhadas
(à espera de pedagógica iluminação).
Estudei metodicamente os filósofos
(à espera de um sentido à frente dos olhos).
Andei de braço dado
com a carestia dos sentidos
(talvez fosse ilusão de ótica).
Armei o coldre
não fosse um contumaz demónio
assaltar-me as ideias
(se é que elas tinham serventia).
Dormitei em pé
enquanto esperava o grasnar de um ganso
(sem saber por que esperava).
Vivi às diferentes velocidades da vida
(porque não sabia a velocidade certa).
Fui a lugares muitos em demandas várias
nómada sem quartel
(não dando crédito ao que queriam ensinar).
No suor embebido das coisas
no suor vertido em palavras desvairadas
escolhendo a vidraça da diferença
não empunhando bandeiras
nem empenhando as mãos
aos muito beatos profetas da verdade
(do paradeiro da verdade nunca quis saber).
O fumo das chaminés junta-se ao nevoeiro
tornando a luz baça centelha aguada,
por onde o crepúsculo se sufraga.

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