14.11.16

Penhor

Contas feitas
os lençóis desarrumados
deixaram a noite sem segredos.

Contas feitas
a noite embebida dera altar ao vinho frutado
bebido com a força das bocas sedentas
sem estorvos outros se não o desejo.

Contas feitas
os corpos depuseram-se
numa fadiga singular.
Nos lençóis
derramadas as lágrimas cautelares
em proveito dos murmúrios fechados.

Com as contas feitas
e as flores despejadas pelo chão
e os despojos que nos deixaram nus
e os azulejos fulgurantes deitados na pele
soubemos
que já não havia números que chegassem
a não ser aqueles prometidos
às coreografias dos corpos inseparáveis.

Podia amaciar o dia no resguardo de mim
enquanto te pedia em vertiginosa demanda.

Não é preciso apressar o tempo
a não ser nos ramos destravados
no altar que nos pertence
e não na espada desembainhada
que tutela o que se não consegue domar.

Devolvi o corpo aos lençóis desarrumados.
À espera de ti e do teu altar.
O sono coroou o sonho existido.

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