10.11.16

Fundo do mar

Foi preciso ir ao fundo do mar
tocar nas estrelas depostas
perguntar à areia muda
sobre o sortilégio de ser.

Do fundo do mar
em demorada apneia
trouxe uns seixos dentro das mãos
algas arroxeadas agarradas ao corpo
e um sorriso que não conhecia.

Não vi as sereias desenhadas em fantasias
(pois delas não fui em demanda)
nem vi medonhas criaturas
ou grutas com sonora incógnita à entrada.
Vi a água profunda
peixes em sereno nomadismo
ao longe,
o hélice contorcionista de um navio mercante
ao longe,
sob o teto do mar
o céu disforme.

Sulquei algumas águas
provando do diferente sal que traziam.

Às vezes
o fundo do mar ilustra os segredos
que olhos nenhuns
em terrena digressão
conseguem abraçar.

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