16.11.16

Mãos inteiras

Agarro pelas mãos
o templo onde se ampara a tempestade.
Convido os mestres das nuvens
à contemplação do sol deitado no mar.
Quero que as gotas de chuva cheguem vigorosas
as aves se escondam em seus refúgios
os tiranetes se amedrontem na curva ardilosa
a multidão se silencie.

Agarro o silêncio com os dentes
como se estivesse consumido pela fome.

Mexo no silêncio por dentro
e escuto na antecâmara dos fogos
um esquilo zunindo poemas amestrados.

Trago,
agora,
as mãos incensadas.

Dizem-me
que um fogo fátuo se verteu na colina
e o fumo em espiral ensina os oráculos.
Não me importo.
Tenho as mãos purificadas
e as fontes todas são meu manancial.

Agarro com as mãos os navios longínquos
as traves onde fundeiam os corpos livres
todas as palavras quiméricas
(que não dissolvem o silêncio);
as palavras
que devolvem uma pulsão sem freio
e deixam os olhos marejados.

Guardo as mãos
que muito delas preciso.

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