9.11.16

Romagem

As escadas íngremes.
Uma medida de coragem.
Tiro os dados à sorte
(ou a sorte contra os dados).
Debaixo da pedra
a centopeia esperneia um destino
ao acaso.
Debaixo da pedra
subo ao céu estrelado:
amparo as costas do dia singular.

Todavia
uma centelha fugaz
estraga a escuridão da noite.
Precisava da escuridão.
Precisava de saber que sem luz
as portas se entreabriam
desmontando as ruínas à espera.

As pessoas falam de ordenanças.
Falam de mandamentos
como se houvesse carestia de vontade.
Eu puxo lustro à vontade que é minha
destruo os mandamentos e as ordenanças.
Posso estar na mira dos atiradores furtivos,
mas não me importo.
Tenho confiança
o céu estrelado é meu mandamento bastante
um seguro cais onde o corpo não se cansa
com pedras à mão para o caso de precisar.

Em minha defesa
alego os ancestrais líquenes
onde ficaram vertidos os votos vindouros.
Alego
páginas a eito
algumas ininteligíveis
outras (talvez)
um rasgo de uma coisa qualquer.
Alego em minha defesa
a pureza das palavras
embebidas no peito desembaraçado.

O corpo prepara-se para as escadas.
Uma vertigem incessante não o demove.
Catalisa as denúncias das coisas irrisórias,
desprende-se do chão húmido.
Ninguém sabe o lado oculto das escadas.
Não importa.
Depois da madrugada demorada
as mãos acertam contas com os lábios sedentos.

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