(Variações
em torno de uma fotografia do Porto Eros
2017)
A
fêmea exposta
sem
pudor
deitando
ao olhar outro
entranhas
sem peias
contorcionista
(disparando
febres másculas)
lasciva
provocadora
perdendo
a roupa
até
ganhar a alma
a
alma despudorada
ou
apenas a alma sem franquia
na
generosidade maior
da
entrega no palco do desejo
vociferado
pela turba
patrocinado
pela turba
em
pré-êxtase.
A
fêmea que dizem fácil
para
outros
portadora
da mais difícil função:
joga
o
jogo inato
da
condição dos humanos
da
condição dos animais
sem
distinção.
Do
sexo prometido
do
sexo sem fim
do
sexo mestre
da
luxuria que reduz o resto a nada
do
sexo de onde tudo provém.
Dádiva
inteira
consumida
pelos olhares à espera
da
turba que a devora
o
olhar afiado
sede
nas línguas destravadas
no
impossível refrear do entumecimento
do
sexo larvar
sexo
a vomitar pelos olhos
ou
através dos olhos o sexo atirado ao corpo
que
é pouco para olhos tantos
como
de animais caçadores na selva
de
atalaia à indefesa presa
todavia
caçadora
silenciosa
num
paradoxo cautelar.
O
olhar atento
as
mãos trémulas
impacientes
sedentas
de corpo
um
ou vários
na
concavidade que se entrelaça
no
dançar lúbrico
que
incendeia fantasias sinalizadas
no
olhar fundo sem fundo
como
se no olhar coletivo
uma
centena de sexos dele saísse
em
estupro consentido.
A
coreografia do desejo:
e
quem não tem desejo
quem
não quer o sexo forte
sexo
destravado
sexo
na
pessoa de uma pessoa outra
que
se não tem
e
depois se tem na ponta afiada do olhar
do
olhar que bebe o sexo oferecido
na
régua impassível
onde
as regras esquecem tempo
onde
o redil celebra rivalidades
e
a fêmea causadora
nada
no tudo que oferece?
Os
varonis
que
parecem tresloucados
macerando
na ardósia por diante
ousam
o palco
que
nem seja à frente dos demais
na
orgia indefetível
que
manda no desejo desarvorado.
Acusam
a insaciável fonte
de
onde fruem imperadores
(ou
em tal estado se inflacionam).
Há
em todos aqueles braços estendidos
suplicando
por um toque no corpo exposto
a
embriaguez não frívola,
ou
como dirão os padecentes do pudor:
o
pecado sublimado
no
pior rosto da animalidade humana
(ou
da humanidade animalesca,
ou
na desumanidade bestializada
–
à escolha).
Só
se não sabe
quantos
sacerdotes que assim protestam
se
resguardam à degenerescência
no
silêncio do quarto solitário
engolindo
o seu vómito,
ato
contínuo,
no
embaraço da falsa pudicícia.
E
a turba
em
coletiva alucinação
prossegue
a valsa
em
crescendo
removendo
os véus aos freios sobrantes
por
dentro do ergástulo da imaginação
a
compasso com a função
em
cima do palco
na
perpétua sacralização da mulher
na
perpétua mulher tornada objeto.
Até
que o sexo
de
tanto o ser
ou
de tanto emasculado em derivas onanistas
ou
o sexo de abusivo reporte
deixa
o seu préstimo perdido
em
brumas gastas.
E
de um promontório esquecido
nas
cinzas depostas nas costas da função
cuidados
zelados em papel timbrado
contra
a mastodôntica, perene linhagem
dos
falsamente puros
e
dos de degenerescência acusados,
deixa-se
de saber a pertença.