2.5.17

Cafeinado

Às folhas caducas
pedi de empréstimo
a estola dos campos floridos
atirando para um poço sem fundo
o medo que incensa as veias

Diria
em solene mandamento
da antítese do saber
que as ondas repetidas que esvaziam a maré 
são um opúsculo inteiro
na singularidade de um entardecer
a destempo. 

Repetem-se os uivos dos lobos
que tomam conta de paisagens lunares. 
O desassossego já não chega,
não hipoteca as palavras adocicadas
e os demónios aninham-se numa toca mendaz
de onde apedrejam sua estultícia. 

Ah!
Agora sei-me inteiro
penhor do vento fértil
fautor das sentidas congeminações
na eira dourada sentado
à espera
que aconteça o luar diurno
e que os braços se engravatem a mim
no mais doce beijo que tenho. 
Sobram os ossos gastos
os ossos despojados por sua inutilidade. 
E eu canto as estrofes não rimadas
os rios indomáveis
as paredes sem alvura
a coutada sem presas nem caçadores
os olhos tremeluzentes vertidos
na paisagem capaz
as montanhas que não me derrotam
e desafio os lobos em seus uivos. 

Não deito as mãos aos céus
por ausentes as divindades
nem desenho preces laudatórias
pois só de mim sou credor. 

Sem comentários: