23.5.17

Tendência

Depois de amanhã.
No casual desencontro com a história
fiquei de cerzir as costuras do tempo
sem o medo capataz que o consome.

Não foi adiamento.

Fiquei à espera de oportunidade loquaz
em vez de apressar os sentidos
contra o estrepitoso acidente em contramão.
Contra os sapatos gastos
movi as influências que pude:
deitei fora
vitupérios constantes
o embaraço dos outros
torres de marfim destituídas
um compasso datado
o perfunctório mergulho no poço perdido.
A lisura da lua acesa
disse
que não podia adiar o adiamento.

Se os mastins esfaimados não se importunassem
com a míngua desassisada
as veias teriam resgate ao seu sobressalto
e eu podia arregimentar um módico de planura
entre o alcantilado das serranias bravas.

Tropeço em pedras venais
e, todavia, não mercadas.

Não perco o prumo.

Contra as marés dominantes
levanto o mastro ufano
de quem não esconde feitos havidos.
Já ensinam as vozes avisadas:
a falsa humildade é a grotesca vaidade
onde tudo se consome num estertor inadiável.

Depois de amanhã
ainda vai a tempo.

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