24.5.17

Diálise

Línguas agastadas
lançam o opróbrio
contra quem agita as águas mansas
com a rebeldia indomável.
Apertam o jugular ao tempo canhoto
sem os sais puros em dívida
sem os pais incertos do enxovalho
sem sequer saberem olhar de frente.
Línguas desapalavradas
no ruído das palavras venais
onde devia medrar o musgo do silêncio
sem supor o tiranete festim
de tirar palavra aos diletos seguidores
dos circenses pederastas.
Ah!
A toleima arregimenta-se
contra a lua verbena
contra iracundos mestres canhestros
contra as contrariedades que deslaçam
o poiso fértil das divindades;

contra tudo o que seja contra.

Oxalá
pudessem mudar de olhos
pudessem saber de cor a cor das palavras
sem o baço buço que as deslustra
sem os ramos pútridos que apodrecem árvores
sem as arcas sombrias
ou os anagramas da impiedade.
À espera de vez
os imorredoiros sacerdotes
arrastam a ossatura em prebendas vãs
que outros de semelhante jaez
se oferecem reciprocamente.

Um holofote fundido
é fiel capaz
no meio de tanto deserto.

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