15.5.17

Farsa

Os ossos não cansados,
cais que esconde tempestades
e os sussurros sem medo
libertam-se dos estorvos mundanos. 
A obliteração da noite desarvorada
amplifica a coragem
um certo devir adivinhado. 
Sorvo o dia em talhadas generosas
sabendo que outros, muitos
se servem
no porfiar dos amanhãs que esperam. 
Não:
não tenho pressa
nem deixo que a pressa me sitie
contra paredes exíguas
refém de uma vontade fina
refém dos trágicos oráculos
orquestrados em mãos viperinas. 
Chego-me à orla do rio
onde o denso nevoeiro cicia impropérios
contra a promessa de um dia soalheiro
e pergunto às sereias submersas
se estou próximo de saber onde desagua o rio
se estou próximo de algum conhecimento capaz. 
Só ouço o vagaroso rumorejar da água
em sua descendente transição,
enquanto um troar indistinto
insinua que os olhos vendados 
talvez
não sejam má ideia. 
Fico sem perceber nada. 
Arranho o sal agarrado às mãos
só para ver
se ele desenha palavras sábias em seu rasto. 
A pele limpa
imaculadamente até sem rugas
pressagia alguma claridade. 
Não parece. 
No palco
apenas a cortina fechada
o chão vazio
e a penumbra que torna tudo indistinto. 

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