30.5.17

Oásis

A moldura serviçal
dando peso aos braços desamparados
esteriliza os parafusos
que embaciam o pensamento.
No próprio pesar
onde se contrariam demónios
pedras angulares
e outros improfícuos algozes
embelezo as chaves urdidas
e empresto
com tamanho ato
a beleza maior à casa habitada.
Abrem-se as janelas
e o vento fica de fora
como de fora fica
a chuva campestre;
de dentro
e por dentro do composto quimérico
de que são feitas as mãos
arqueia-se a vontade sobre o corpo transido
e a fome inteira
a fome contumaz
não oblitera a vontade.
Oxalá
de noite tudo viesse à planura dos olhos
e as palavras fossem todas férteis
ciciadas em segredo
entre os lençóis aquecidos
a rosácea do rosto cansado
as unhas dedilhadas com o suor sobrante
o coração desimpedido
no cabaz macio do amor sem data.
E a inteireza sobe à tona
quando aos oxalás
se achou louvor.   

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