29.5.17

Grisalho

A faca não ensanguentada
o sol espevitado na sombra telúrica
um código anacrónico
o fumo estival
(cuspido por um vulcão reavivado)
as beldades timoratas
os cães no telhado
a lua que emerge do fundo do poço
o sangue aplacado
as avenidas atravessadas no silêncio
projetos arrumados no sótão da memória
a desmemória amontoada no miradouro
um padre escolhido para desmentidos
as lágrimas enxutas
os xailes espalhados junto das cinzas
as ruínas alevantadas
os madraços colhendo frutos
uma buzina ininterrupta
(forja o engodo dos desalmados)
um batel sisudo entorpece as águas
as fontes trémulas povoam sonhos
e os fins que não têm chão próprio
num terreiro sem sepulturas
sem fins a preceito
sem fim
no fim.

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