25.5.17

Dança com o Japão

Em perfeita negação da obsolescência
tirava à sorte
entre os dedos de uma mão
o critério banal da leviandade.
Tinha de dançar com o Japão
e as noites baças não seriam estorvo
nem a despropensão para a coreografia.
À medida que o vento vindicava presença
e as espadas hirsutas mugiam a fuligem
os cálculos dos argonautas eram a baliza
dentro das limitações da sua matemática.
Contudo
deixei os sapatos no hotel vidrado
e fiz notar
que não sabia que eram precisos
para dançar com o Japão.
Prometeram-me engenhos pirotécnicos
festejos a preceito
uma homenagem em caso de coreografia
medalhas e tudo.
Foi quando fiz de conta
ter-me esquecido,
ao acaso,
em perfeito exercício de inocência fraudulenta,
dos sapatos amestrados.
Não dancei com o Japão
(nem com ninguém)
nem comendas trouxe em resposta.
Dormi como quis
o sono sopesado dos anónimos.

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