22.5.17

Equador

As palavras mudas
as palavras mudam.
Tenho a dizer
à sintomática audiência sentada
e à que se encontra de pé
que dos armários do mundo
sobejam umas migalhas de ouro
autêntico arquétipo
da fortuna que a ninguém interessa.

Mudas, as palavras
mudam as palavras
com a muda do tempo.
Tenho a desdizer
de cima do palco encardido
que um punhado de gente se assenhoreia
das ruas inteiras
dos segredos que se especulam
e que atiram penumbra para cima do sol.

Mudam as palavras mudas
e o ruído com que enfeitam os quadros
é o desenho protestado em rimas sucessivas
sem o incómodo do amanhã.
Documentadas as existências efémeras
abdico do sangue fundo
e trago ao de cima
a volúvel bandeira sem cor
contra os bastardos consumados
e as vozes guturais que aparecem no vazio.

Mudas as palavras que mudam
na judiciosa prisão
dos fantasmas desenganados.

Muda a muda do resto
no opúsculo contrariado
contra os remos quebrados
que esbarram nas águas mortiças.

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