12.6.17

Do esquecimento

Diamante delapidado
no probo alguidar da crítica
merecedor que fora dos encómios sem par
atirado para o canto da irrelevância. 
Era sabida a sua prolixa condição
a verve parafrástica
a linguaruda teia opinativa
a admiração que deixava em rasto
depois da sua passagem. 
Dele se dizia
ser um quase sucedâneo divino. 
Um dia
o chão fugiu sob os pés
e no precipício fundo o seu corpo se entregou
como cofre baço onde teriam guarida
os ossos finais:
a mera metáfora da singularidade
que 
(de acordo com as lendas)
fora. 
A sua serventia
era a mesma do cofre sepultado no abismo 
que era a morada ao fim do precipício:
lugar tão remoto,
inóspito,
infrequentável. 
Não havia ninguém para o recordar. 
Agora,
só era um diamante delapidado;
ao final,
deixara de ser diamante. 

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