1.6.17

Medo

De onde chegam
as nuvens que se deitam
sobre o olhar vencido?
Punhais sem mão
bustos em demanda de rosto
serpentes afiveladas
uma corda-garrote atando o pescoço
um teto feito de água
apneia
ósculos de gente-pesadelo
montra com cadáveres para comer
grotescos artistas
o corpo nu na rua
sumidades impantes
madraços suplicando boçalidade
eruditos a braços com estorvos na escrita
o ridículo
velhos curandeiros de sotaina
novos curandeiros sem sotaina
deserto
divindades com mácula
preces
sangue a sair das veias notórias:
medos.
E o medo de ter medo
nos estouvados labéus
labirintos só com porta de entrada
precipícios sem aviso
nevoeiro no quarto
chão sem chão
e o avesso dos medos;
medos ainda
um polvo disforme
tentáculos a perder de vista
em asfixia dos sentidos.
Sem saber
se é pesadelo,
apenas
ou medo tangível
locupletando a lucidez
tornada contumaz.

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