6.6.17

Golpe de Estado

O torreão sem bandeira
perfuma a decadência
– protestam os usurpados pelo domínio
(e que depois tutelam a usura da vontade).
Sem desvio
os ossos estimados dão à costa
já não aprisionados
na garrafa despojada pelo marinheiro.

Na terra de ninguém
não há bandeiras hasteadas
nem milagres proficuamente doutrinados
ou o sobressalto da tutela que se encorpa.

Às vezes
é preciso o mar alto
um paredão inacessível
a chuva rara
(a que cai nos desertos)
o rosto inteiro na macieza da areia
arrematar uma embarcação sem capitão
e deixar que o mar
o mar alto
ornamente as marés ao acaso.
Para
num golpe furtivo
inesperado
do cais arpoado se distinguir
o torreão que recusa bandeiras.

E sentir
por dentro e sem peias
o ósculo maior do despoder
a esbracejar no rosto então macio.

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