23.6.17

O sonho por dentro do sonho

Sitiado nas veredas áridas
onde só as pedras esparsas,
estendidas no chão ao acaso,
resumem a sombra do dia:
sinto
ser penhor de um sonho
ou que o sonho
em sua altivez
em mim encarnou
e deixou em herança
esta esquizofrenia diletante.
Repouso nas arcadas do tempo lento
num interstício apalavrado ao vento
e descubro
no fundo do vale
um riacho que prospera depois da nascente.
A sede bastante
pedia água fresca
que validava o desejo atual.
Em vez disso
em austera demanda
mantive o passo estugado;
não,
a pressa não me fazia refém
e mesmo que a luz se esgotasse
(mercê do inverno macilento)
não eram essas
as faces rosadas da voragem.
Contraía os músculos maxilares
e pedia ao coração o oxigénio todo
que era larga a jornada por diante.
E depois percebi
que o sonho não deixava entender
onde se fundia
o sonho como o que sonho não era.

Sem comentários: