22.6.17

Sextante

Não é da impressão de apocalipse
nem da tempestade que se abraça ao horizonte
ou das preces infundadas de beatas anãs.

Não é das flores que não medram
nem dos mares incolores e baços
ou das pestes desembainhadas por mastins.

Não é do murmúrio melancólico
nem das trevas enroupadas
ou dos probos com esqueletos no armário.

Não é da boca quente
nem das frágeis palavras que nela estalam
ou dos pastos à míngua de irrigação.

Não é da ousadia tardia
nem do culto esotérico
ou dos padres sem sotaina e sotaque.

Não é da valentia desassisada
nem da demência sem cura
ou dos preâmbulos sem eira.

É da ciência com chão
onde se deitam os corpos ávidos
e irradia o conhecimento sentido.

É do sol escorado
onde se aprendem as prosas
e prospera a fonte fresca.

É das paredes caiadas
onde se desenham sonhos
e cevam os amanhãs acetinados.

É dos olhos profundos
onde repousam os ossos cansados
e se devolve a matéria bruta do ser.

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