13.8.15

Sangue quente

As veias em ebulição.
Fervem no contraste das facas depostas.
O sangue levita
em sucessivas ondas convulsivas.
Depois vem o suor
em cascadas descendo a pele ruborizada.
A contemplação das coisas
obnubilada pelas persianas que descem
sobre o dia.

O aroma das framboesas
repara os males possíveis.
Refresca o olhar que tergiversa:
enxagua o suor decadente
mapeia as veias frementes
até que o sangue se sirva em arrefecimento.

Mas pode ser efémero:
que a faca do tempo resolve
num ardil premeditado
desatar uma tempestade sem agenda.
Fica tudo à mercê do caos
e o sangue volta a ferver
por dentro das veias incendiadas
devolvendo o suor ao corpo num frémito.

É sabido
as tempestades são efémeras.
E por mais que sejam duradouros
os seus efeitos
o corpo não aguenta duradouramente
a combustão das veias
que é nutriente do sangue quente.

Cessa o suor.
Cessam os sobressaltos
que amesquinham o tempo presente.
Cessam os vagares
que aprisionam o tempo.
O céu desprende-se da cortina de sombras.
Resplandece
nas suas cores vivazes
lembrando que apenas importa o dia presente.
Resplandece
o céu admirável
perfumando o tempo
com  o aroma das framboesas.

Lá longe
o sangue quente já é só
matéria do reino das memórias.
É sabido
o efeito heurístico das tempestades.

11.8.15

Pele lavada

Já sabíamos
os mistérios da alvorada.
Éramos armadores dos seus segredos
enquanto a bruma subia por cima
da copa das árvores.
Já sabíamos
que as lágrimas furtivas
não se embebiam em fortuna.
Éramos lugar-tenentes da sobriedade
e nem nas folhas rasteiras víamos ardil.
Já sabíamos
a sapiência dos mastros.
Éramos forcados ambulantes nas hastes alheias
e no fim levávamos o troféu.

Já sabíamos
que o mel e o ouro são nossos.
Por mais que o mar cicie o contrário
as mãos colhem das algas a maresia inteira.

Já sabíamos
que os poros se enchiam de luar.
Éramos argonautas sedentos do neófito
em forma de coroa de diamantes.
Já sabíamos
que o suor se insinuava nos poros.
Éramos ambidestros na decantação da cicuta
enquanto a lua nova antecipava a luz inteira.
Já sabíamos
que os olhos se enchiam em troca.
Éramos timoneiros de todas as naus
em que olhos doirados fossem embarcadiços.

Já sabíamos
das rosas com espinhos abruptos
das uvas amarelecidas e gastas
dos rios desbragados, iracundos
dos espíritos macilentos
das arcadas desabitadas
(e daquelas habitadas por inumana gente)
do restolho das árvores
dos ocasos dedilhados na fronteira da lucidez.
Já sabíamos
tudo isto e outro tanto.
Éramos os diligentes penhores das palavras
enquanto cerzíamos a intensidade
por dentro de nós.

Já sabíamos
que só podíamos contar
com os frutos que nascem das nossas mãos.

10.8.15

A agulha e o palheiro

Fecha o livro
fecha a boca
(não tem serventia ficares boquiaberto).
Não adianta acenderes velas
nem as preces aos anjinhos.
Esquece as ajudas
de quem pudesse ser ajuda
atira as esperanças contra a rede apertada
deixa-te suar
que ao menos o suor evapora a ira.
Tens um palheiro sem fim
e uma agulha para encontrar.
Deitas fogo ao palheiro?
Não compensa o arresto
por não valiosa agulha.
Pode ser que antes
te cheguem os vapores da loucura.
E então
tomado pela demência
um cálculo sem cálculo te faça aterrar
no terreiro onde acama a agulha.
E depois
desidratado de tanto porfiar
perguntarás às perguntas
para que serve aquela agulha.

6.8.15

Salto no escuro

As portas blindadas intimidam.
Mandam-se relógios contra elas:
sem efeito.
No chão três gatos
debatem-se com os despojos
do restaurante mesmo ao lado.
Bulham por um pedaço de bife
diante da indiferença das pessoas.
As férreas portadas
inamovíveis
são como elefantes em hibernação.
A vontade não se demove
nem por ver que as portas não tergiversam
acossadas pela ventania do ciclone.
Engendra-se estratégia
para o esbulho das portas.
Passa pela descoberta da chave.
Ou
como fazem os ladrões
por forjar uma chave
que deixe à mostra
a penúria da aristocrática porta.

4.8.15

Maresia

Maresia ao entardecer.
o frescor do vento esbarra no rosto
e eu respiro este perfume
que sacia os sentidos.
A maresia encomenda os sonhos
já não desterrados em paisagem etérea
antes
transfigurados matéria viva.
Desta maresia nutriente
refrigério que aplaca vultos
estonteante avenida:
onde a maresia dá forma
ao trono dos príncipes eternos.

3.8.15

Apólice

Não é em cima do joelho
que se alçam as mordomias do tempo.
É em labor reiterado
com destreza incluída
e uma certa dose de inspiração.
Não é ao calhas
ao deus dará
nas mãos de um oxalá qualquer
em lugar da falta de brio madraça.
Esta é a apólice
a imperativa apólice.
Para à noite
os pesadelos
não serem com as veias em suor.

31.7.15

Monopólio

Uns seráficos tiranetes
disfarçados de almas bondosas
entretêm-se ao jogo do monopólio.
Fazem de conta que não;
convencem-nos que são generosos
espalhando virtudes outrora ausentes.
E (protestam uns visionários)
empenhando-nos em hábitos saloios
e numa dependência que nos aprisiona
a autonomia.
Cai-lhes a máscara
aos tiranetes do monopólio:
só querem a gula da abastança
enquanto nos viciamos nos seus ardis.
E cai-lhes a máscara
aos visionários do oráculo sapiente:
que não desdenhariam outra forma
de monopólio.

30.7.15

Limites

Não nos limitamos
aos limites que estreitam desafios.
Que contrariam o letargo.
Os limites
de sermos além do que julgamos.
Com a força que nos é devida
abrigamos os limites na lonjura.
Como se o céu deixasse de ser estorvo
ou impedimento mental:
no devir de que somos tutores
a força depositada nas nossas mãos
levanta o limite dos limites.
Temos a fronteira nessas mãos ricas.
Não nos atemorizamos com a empreitada.
As mãos apoderadas
adiam a distância entre nós e o céu.

28.7.15

Prova de fogo

As cinzas arrestadas da montanha
pousam a meus pés
na planície que deixou de ser dourada.
Corvos dançam entre as nuvens
entre os pedaços de azul
que as nuvens deixam à mostra.
A mãe passeia o bebé no carrinho
cruza-se com um cão vadio
que fareja o oráculo do nascituro.
O mar encolheu-se na maré baixa
dir-se-ia temer a multidão na praia.
Os carros passam sem cessar
vão e vêm ao deus-dará
empalidecendo o asfalto que é seu chão.
No apeadeiro
duas adolescentes grasnam ao telemóvel
num idioma quase ininteligível.
À porta do supermercado
a senhora velha deixa cinco euros
no chapéu indigente do mendigo.
Uma folha de jornal perdida,
levada pelo vento que se pôs,
É lustre para prosa entediante
do neófito escritor careca.

A noite que se anuncia faz acender os lampiões
e uma penumbra consome a senescência do dia.
As pessoas jantam nos restaurantes
os namorados beijam-se no banco do jardim
o velho acabrunhado sobe a avenida, impassível
os turistas de nariz no ar celebram o desconhecido
o motorista do autocarro boceja no fim da jornada
e as estrelas congeminam-se para uma noite mágica
a antevéspera de todas as proezas juntas
numa só página de um livro.
Como se estivesse para vir uma parada de músicos
e a música fundida fosse uma partitura aguada
com estrofes compostas em forma de nenúfar.

Na planície onde estou
as cinzas foram varridas
e a planície resgatou o vestido dourado.
O dia foi um triunfo inteiro.
Estou como um imperador em visita às hostes
apreciando a vastidão do território
e o respeito dos súbditos.
Naquela altura
em que as sombras se dissolvem
e deito a mão ao peito
só para dizer
em rima com o sentimento
como subi ao promontório
e extingui o fogo que tudo ameaçava consumir.

27.7.15

07:01

O despertador, estridente.
Persianas que se erguem sobre o dia.
O sono, ainda.
E torpor.
Devo vir de chapéu estendido
para o dia nascente?

Às vezes
antes ficasse na letargia
– penso,
ou julgo que penso,
tomado pela preguiça atónita.
A luz lá fora à minha espera
e o corpo madraço abraçado aos lençóis.
Não sei que luz está à minha espera.
O boletim meteorológico não é de fiar
(ontem adivinhava um dia solarengo).
Se calhar há andorinhas em viagem
ou gaivotas esfaimadas em pose de abutre.
Ou, se calhar,
deixasse eu de perorar em pensamentos
que há banho por tomar
e a lufa-lufa do escritório.

Talvez tenha sorte
daquela menina bonita se sentar ao meu lado
no elétrico para a baixa.
Ou da varina gorda rogar pragas vernáculas
a uns rapazotes estroinas que tropeçaram no cabaz.
Ou de ser vizinho de refeição daquela atriz de teatro
que deixa os homens loucos
só de cruzar as pernas.

Ou, apenas,
devo sair da cama porque é lá fora
que medra a vida.
Entretanto
07:19.
Faz-se tarde.
Entaramelado
resgato-me do torpor dos pensamentos.
Nós fomos feitos para trabalhar:
para engrossar o pecúlio dos abastados
e pedinchar salário de subsistência.
Pelo menos
é o que protestam as vozes incendiadas
pelos despojos das virtudes.

O ar torna-se denso dentro de casa
insuportavelmente pesado.
A demanda vem da rua.
Do bulício e da indiferença dos passeantes.
Vou-me à rua
na derrota das rarefações diárias.

Banho tomado.
07:56
a rua sente-me,
enfim.

24.7.15

Timoneiro

Um timoneiro bem apessoado
não perde a fleuma
ao sentir o ângulo morto
da penumbra.
Adestrado nos contratempos
o timoneiro não reserva o lado lunar
para as intempéries
(as de outrora e as que vierem a bombordo).
As tréguas
toma-as entre mãos
dos seus termos faz-se zelador.

22.7.15

Perguntas de retórica

Quanto de ti
prometes aos prantos leitosos
da tágide moderna?

Quanto de ti
entregas aos braços sedosos
da deleitosa ventura?

Quanto de ti
retiras do regaço cálido
da imperatriz abraçada?

Quanto de ti
dás ao preceito frutado
das mãos entrelaçadas?

E quanto de ti
se reaprende no feixe de luz
emulsionado pela sua aura?

As interrogações servidas às avessas:
pois de serem retóricas perguntas
afianças resposta loquaz:
tudo,
na singularidade de uma inteireza cabal.

Todos os sonhos extasiados
todos os olhares de mel
todos os frutos dourados
todos os recantos emoldurados
todos os dedos prometidos
todos os sentidos maiores
todas as estrofes sem dedicatória
toda a carne quente ao toque das mãos
todas as noites
os dias inteiros.

Da plenitude que extravasa
para fora do corpo e da alma.
Tudo.
E com a imensidão de que somos artesãos
com todo esse tudo.

21.7.15

O casaco do professor Miranda

O professor Miranda não brinca em serviço:
impoluta indumentária
o casaco não se tira 
nem que quarenta sejam os graus
e o suor desça dos sovacos ao resto do corpo.
Pois que o professor Miranda
atreito às convenções
(e talvez seu refém primeiro)
tudo fará para tudo fazer
sem despir o casaco.
É só imaginar.
Uma aula, decerto;
o repasto na cantina
(que nunca o professor corre o risco de nódoas
afearem o casaco);
um eletrocardiograma;
um evento que admita vestuário sem peias;
uma prova de natação;
uma viagem de automóvel;
o sono, na cumplicidade dos lençóis;
a passear o cão na rua;
a acompanhar o neto no cinema;
a comprar peixe à lota;
e
vá-se lá saber
nos privados banhos
noutras privadas funções
daquelas que exigem solidão
ou
vá-se lá saber
companhia de alguém.
Mas do casaco
do sóbrio casaco de respeitável linhagem
não prescinde o professor Miranda.
O casaco sem é nudez
para o professor Miranda.

17.7.15

Ghost writer

Do canto da sala
um caixote fechado em forma de enigma;
os dedos escorregam pela mesa
procuram saciar a demanda
tirar o enigma da sua enigmática condição.
Mas é preciso um ardil.
O dono daqueles dedos não quer ser intruso
abespinha-se só de se saber
consumido pela curiosidade.
Pega num papel
remexe a gaveta
para encontrar o paradeiro de um lápis.

Muda para alter ego:
alguém que por dentro dele
venha para o exterior e seja seu émulo
sem ser a mesma pessoa.
Quando as palavras
começam a ser dedilhadas no papel amarrotado
é o escritor fantasma que as desembainha.
Proclama as improbabilidades
deita para fora uma ira reprimida
e abana o chão com o vernáculo todo
 – assim como assim,
não é ele,
é outro que se apoderou dele.

As mãos já não trémulas
desatam os nós do caixote enigmático.
Remexem o seu interior:
bugigangas arquivadas
papéis amarelecidos
ferramentas enferrujadas
uma garrafa de brandy recesso.
E um bilhete em linguagem cifrada
tornando mais denso o enigma.
O escritor fantasma
esbarrou na ininteligibilidade;
antes não tivesse sido empossado
esbirro da pessoa contumaz.

Agora havia duas dores:
nem o enigma deixara de o ser
e o recurso ao escritor fantasma
dobrara as aflições interiores.
Oxalá pudesse sepultar a curiosidade a tempo.
Antes não tivesse sido madraço da hipocrisia
e não tivesse encomendado a função
ao escritor fantasma.

14.7.15

O futuro

Atira uma lanterna com as duas mãos
atira-a ao buraco negro
que vem no limiar do precipício.
Não te esqueças de ordenar à lanterna
que faça luz quando chegar ao chão.
Mesmo que se despedace em mil bocados.
Pode ser que um desses bocados
contrarie a gravidade
e empreenda a subida do precipício
só para te mostrar uma nesga do futuro.
Talvez entendas
então
que o futuro antes do tempo
é um revolver enfiado
na têmpora do próprio tempo.

10.7.15

Do riso diurético

Faz de conta que fui ao médico.
Faz de conta.
E que o médico
inquieto com as maleitas
que eram minha apoquentação
mandou estudá-las.
Voltei ao médico quatro dias depois.
Faz de conta outra vez.
O médico, perplexo,
narrou com técnicos termos
as medidas da maleita que andava comigo.
O médico estava perplexo
mas não era por minha causa;
a perplexidade vinha afivelada
à patologia que era de outros
e pelos outros vinha contaminar-me.
O médico desenganou-me.
A doença pertencia a outros.
Perguntei
se nem pelo contaminante efeito
a patologia passava a ser minha.
(Não que tivesse ambição hipocondríaca;
é que tamanhos sintomas
causavam brotoeja a gente canhestra).
O médico olhou,
com o olhar perdido de quem está longe,
e quando o olhar regressou aos meus olhos,
lavrou prescrição singela:
rir,
rir com gargalhada sonora
demoradamente
um riso espontâneo
desfazendo urros que incomodam a um nada
com a grandeza de um sorriso.
Deixar a agnosia ser programa de humor.
E a todos os canhestros
agradecer
o (meu) sorriso perene.

9.7.15

Os nós desalfandegados

O marinheiro coçava a cabeça,
eram tantos os nós por desatar.
Era sua função.
Apetecia-lhe ser madraço
convidar o ónus à ausência
embolsar o sono por dentro dos olhos
cantar aos pássaros famintos
apreciar as varinas que descarregavam a faina.
Mas era mais forte que os impulsos;
pegou numa corda
noutra e noutra a seguir
e as mãos calejadas de destreza
desfiavam os nós impossíveis.
Ou os nós que pareciam impossíveis.
O marinheiro tinha as mãos ensanguentadas
de tanto porfiar nos interstícios dos nós.
Na manhã depois
o contramestre nem reparou nas cordas
ordeiramente depostas no convés.
O tempo seguiu a ordem de sempre.
E o marinheiro não tinha miradouro
para sonhos diferentes da arte que era sua.

2.7.15

O paradigma do gato

Gato poltrão que boceja
o pesar da vida invejada.
Os bigodes molhados
da água que o dessedentou
pingam sobre os comestíveis sonhos
de mandriões avulsos.
Gato poltrão,
que lições ensinas?
Que as sinas da gente transviada
são descaminhos dos fados outorgados.
Gato poltrão
que persegues a lagartixa
só para desenferrujar a preguiça:
mostra a tua pança
libelo dos manjares que alimentam
outras invejas.

1.7.15

As mãos só

As mãos atadas.
Algemas geladas que descem as mangas
sobre a noite.
O pensamento revolve-se
como se de ondas altas num mar agigantado
se tratasse.
Contorcido,
o pensamento,
parecia embrulhado num enigma,
retorcido.
A noite promete ser uma longa insónia.
A noite promete tempo talvez gasto em vão.

Pelo meio
a imagem da lua a caminho do ocaso
é intensa candeia que destrava o enigma.
O luar enfeitiçado despejou
uma árvore radiosa sobre o olhar embotado.
Uma árvore cheia de flores
constelação de odores quiméricos
como se uma barragem se hasteasse
entre o mar enraivecido e o corpo à mercê.

O corpo esbracejou
exalou as fantasias reprimidas
vociferou tudo o que havia engavetado
trinou as cordas vocais no silêncio da noite
e dedilhou as guitarras baças que ganharam brilho;
o corpo frenético bebeu o luar
e tornou-se majestoso imperador de todos os lugares
centrípeta peça de um equinócio novo
as rodas do mundo
– do mundo que calhava em interesse:
o mundo a seus pés.

Nesse instante
as mãos soltaram-se das algemas.
Desceram à terra
e trouxeram um pedaço dela ao cheiro.
Com a força tentacular do corpo
despedaçaram as algemas que pareciam de fino cristal.
As mãos depois vieram ao rosto limpar o suor
sentir o suor
– que era coisa que já levava saudades
de tanto o tempo sitiado nas algemas.
As árvores tinham todas a sua marca.
A lua tornara-se perene
até quando a luz diurna se fazia ao altar.
O pensamento
agora desembainhado do coldre
fruía desimpedido;
era como se viesse na proa de um navio
e o navio mandasse nos oceanos todos.

As velas desfraldadas tinham sede
da brisa fresca.
Tornavam-se acetinados estandartes
impregnados de pérolas e ouro:
a macieza do pensamento medrava
a distinta figura ímpar
enquanto as aves marinhas ensaiavam coreografias
sobre os respingos das suaves ondas do mar
e a figura imperial contemplava o firmamento
– imperador das águas daqui até ao firmamento
e o que houvesse por depois.

Já não havia lugares medonhos.
Já não havia proibidas palavras.
Nem esteios que parecessem masmorras eternas.
À boleia dos alísios
as mãos o mais separadas que pudessem
erguidas ao alto:
mostrando aos céus
já não terem algemas por freio.

À volta
apenas mar
um mar imenso e fresco
a fazer apetecer um cais algures.