30.9.16

A cidade nua

A cidade nua
desfolha-se através da escotilha entreaberta.

Não se sabem se as costas cansadas
dão cais aos sonhos angariados
ou se são apenas a porta transversal
de uma cidade antípoda
os raios vidrados da cidade sonhada.

A cidade nua
respira o odor da chuva na terra ressequida.
Respira
demoradamente
enquanto se embebe nos taninos singulares
de um vinho imaginado
embarcado em navios sabiamente desenhados
sulcando o rio sem o magoar.

Na cidade nua
desaprovam-se os preconceitos a eito
povoam-se os hábitos com desábitos a preceito
à mercê do vinho a rodos
que por todos é bebido
em noviço festim.

Até que tudo fique nu
impurezas que deixam de o ser
segredos sem cortinas
tratados assinados a tinta da china.

Sem supor
que há ardis por desnudar
sobressaltando a altiva nudez da cidade.

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