Sombras
diurnas fervem no chão
três
horas antes do ocaso.
Sombras
a destempo
ou
apenas o relento a tomar conta do olhar
tirando
água de dentro de um poço frondoso.
Atira-se
o corpo contra as ondas
e
de dentro do mar vêm polvos agarrados
seixos
perdidos na maré
uma
garrafa romba enredada em algas.
O
âmbar do céu conta histórias perdidas
enredos
impensáveis
ecoando
no travejamento da casa desocupada.
Por
favor
(reza
a súplica)
por
favor
desembrulha
o céu cheio de veias podres
deixa-o
medrar
nos
abjetos estorvos encaminhados
deixa
os
abjetos estorvos
fadados
ao descaminho.
Ou
podem as viúvas tristonhas sair à rua
com
gatos adormecidos a tiracolo
preces
repetidas, monocórdicas
vozes
condoídas pela desgraça imorredoira
extasiar
diademas demoníacos pressagiados.
Não
quero ser notário dos inditosos oráculos
ou
coveiro das representações da desgraça.
Só
quero um banco de jardim
o
jardim sem gente
a
noite estremunhada
vinho
doce
beijos
sem dor
árvores
como pano de fundo
ao
fundo do meu fundo sem fundo.
Que
o sangue derramado não seja o meu.
No
miradouro escondido da noite
enquanto
as candeias cantam seus reparos
tiro
as algemas do olhar
e
sinto um tremor de terra por dentro
ondas
indomáveis trepando o cais
dentes
mordazes ferrados na carne
destemidos
versos na orla do dia fervente.
Para
dar de mim
o
todo em que me decomponho
sem
vírgulas nem pesares
inteiro
corpóreo
sagaz
o
peito farto à espera do que houver
ancoradouro.
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