26.9.16

Vertigem

Deslumbrantes
morangos frescos sobre a cama
respiram sobre a noite temporã.
Desalinham-se os céus
devolvida a claridade
apesar da noite
(já noite):
um grande lago azul sobreposto.
Anotação de empreitadas:
que estou a chegar
que trago uma forma diferente de estio
que das lonjuras viajou comigo
o horizonte desembaraçado
e as legítimas rodas dentadas
que prendem os olhos salgados à tela majestosa.
E num dezembro tardio
sem os ósculos caridosos em velhinhas ao acaso
sem as íngremes subidas mordazes
talvez
encontre uma floreira viçosa a destempo
sem garantia de gente importante
ou caução de funcionários atestados.
Os feixes de luz 
incendeiam-se por dentro dos olhos
deixando os frutos sem aroma
e os dedos incapazes de tecerem seu mapa.
Não me assusto.
Não será decerto tarde.
Não serão 
nórdicos gelos a entronizar a inércia.
Não haverá 
casacos de ferro a impedir o movimento
ou algozes desembainhados
a tornar deletérios os pensamentos.
Tenho o horizonte debaixo da manga
e não conto contar o segredo.
Os morangos colhidos
têm dias de repouso em cima da cama
e nem assim a madurez se evaporou.
O aroma obtido dos morangos
continua a ser o vaso comunicante
a aragem continua do quarto
– do quarto portanto pleno.

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