4.9.16

Fulgurante

E se o arejamento das ideias
tivesse penhor em máscaras necessárias
transbordando da fogueira acesa
para um chão cheio de gelo
onde tudo se adormece?

Podem os mecanismos que desarticulam o ócio
pender para o lado da lua
e logo se encenam as máquinas compostas
em sucessivas doses de empenho:
renova-se, então,
a fé nas pessoas,
nas coisas,
no mundo quase inteiro
(que subsistem contrariedades indomáveis
e descaminhos sem remédio
– há quem insista em chamar-lhes preconceitos).

Jogam-se os dados tirados da água da manhã
à espera dos números certos.
Sem saber o que são os números certos
a não ser quando estouram nas mãos
num festival de cores que se arqueiam
sobre as palavras
e emprestam iridescência ao dia nascente.

A fórmula não está gasta.
Às vezes,
apenas esquecida
como a poeira nos interstícios das persianas,
a poeira que consome parte da luz do dia.
Mas há sempre um piano sortilégio
desembainhado da fantasia
que cobre o dia com as pétalas convincentes
que tudo o resto deixam em hibernação.

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