6.9.16

Cabalística

Uma adivinha com acerto.
Dois olhos pensativos juntam as baias do mundo.
Três amigos sentados em pura estarolice.
Quatro limões para a sangria dos desejos.
Cinco dedos no chão travejado por ramos fundos.
Seis lanços de escada a separarem do miradouro.
Sete semanas sem respostas.
Oito apóstolos da religião reinventada.
Nove as vezes que fora a Paris.
Dez sapatos e uma dúvida persistente.
Onze pratos e o farto repasto amesendado.
Doze estradas e um cálice a temperar a decisão.
Treze gatos negros
e nem um clarão supersticioso.
Catorze almas juntas no jardim
jogando à mesa de um jogo que passa o tempo.
Quinze noites seguidas de sono incomodado.
Dezasseis beijos sem interrupção.
Dezassete diamantes em trovas subterrâneas.
Dezoito pernas indistintas
em contorções lúbricas.
Dezanove cães à espera dos mantimentos.
Vinte quadros abertos aos olhos ávidos.
Vinte e um segredos que ninguém quer saber.
Vinte e dois sacerdotes redimem uma multidão.
Vinte e três pecadores não querem redenções.
Vinte e quatro políticos
tomados pelo ardil da corrupção.
Vinte e cinco louvores
depostos em cerimónia solene,
anos depois.
Vinte e seis baraços diligentemente apostos
no pescoço das bestas.
Vinte e sete meses antes
de serem vinte e oito os anos cumpridos
em exílio.

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