3.9.16

Espelhos sem chão

Alpinismo em forma de desafio
sem arnês e escotilha
deixando à mostra as arestas pontiagudas
do sobremarino diletante.
As persianas escoltam o medo
restituem um módico de luz
aos medos transidos pelo medo dominante.
Não têm de assobiar à lua
os marujos enferrujados
os timoneiros esquecidos
os poetas sem reincidência
os docemente loucos sem demissão.
Cães vadios
lembram o estertor que se impossibilita
e as mãos invejadas desenham nuvens belas
no ar que se compõe em forma de tela.
Oxalá os desditos e as controvérsias
não fossem engodos pueris.
Oxalá
pudessem as árvores permanecer frondosas
mesmo quando a neve terrível
enregelasse os seus poros
e as candeias de aço não fossem bastantes
para o degelo.
Desestima-se a vaidade periclitante
o desamor enfurecido
os rostos contristados pelo afã dos demónios
a balsa falsamente penhor de refúgio
as estradas sem mapa nem vértices achados
as intempéries retemperadas
as línguas esfaimadas
que almejam bocas efusivas.
Os sinais descodificam-se
por mais que venham disfarçados
em vestes árduas.
O tempo está à espera de ser esvaziado
por atores confusos
que não sabem por que ordem usarão as mãos.
Tirando isso
a fatiota a preceito
para a agitação dos dias usuais
e o entardecer,
como são todos os entardeceres,
procura refúgio nos contrafortes
da noite timorata.
Antes
que sejam sufragados os medos contrafeitos
e a noite,
a noite longa,
seja espargida pela demência de um instante.

Sem comentários: