24.9.16

Pela maré

Terçam-se as espadas frias
um banquete soez
aguçam-se os lápis desembainhados
para um logro no tempo.

Sabia ser uma caução sem fundo
um espelho estilhaçado que nada deixa ver
a antinomia de paisagens pinceladas a ouro.
Sabia das noites perdidas
no jeito desastrado
de desarranjar as estáveis considerações.
Sabia dos rios tumultuosos
que apenas são graça
para a paisagem que extasia.
E sabia
que as espadas correm o risco de sangrar
o risco de serem dor funda
tornando impuros os domínios onde se terçam.

Tudo confere.
Das lições marginais que não são aprendidas
das luzes baças que se emprestam ao torpor
dos corpos abandonados às nuvens vetustas
dos anéis despolidos em coreografia bastarda.

Confere.
A lição magistral
dentro de um palco freguês
onde tem lugar
o desalfandegar dos assentos confortáveis.
No dorso de um cavalo mítico
desautorizando esgares aferroados na fealdade
no sentido contrato com a inteireza.

Até que sobrem
sobre o chão molhado e sem vestígio das ruínas
só as palavras doces
os olhares ternos
a sorte tirada no avesso do infortúnio
a homérica assinatura das folhas brancas
à espera de heurísticas formulações.

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