15.9.16

O mau elemento

Atirem toda a artilharia
os impropérios e os dardos envenenados
as flores podres e o pão bolorento
o opróbrio sancionatório
que faz descer a vergonha.

Atirem tudo de mau ao mau elemento
que,
ao mau ser,
mereceu todos os males cominados.
Não se cansou das torpezas
não largou a insídia de mão
não ganhou para sustos ao fintar demónios
não quis semear simpatia
no púlpito de onde assobiava perfídia.

Desdenhou
vociferou
atraiçoou
mentiu
manipulou
distorceu
disfarçou
esbofeteou (fracos)
fez chover deslealdade
ganhou foros de desagradável personagem
ufanando-se de pergaminhos tais.

Findado o reinado de aleivosias
à mercê do julgamento dos outros
de todos os outros
– dos que aleijou
e dos que foram testemunhas dos danos noutros
– mantém-se impassível
cabisbaixo
estremunhado.

Compõe o ar compungido de vítima.
Vítima de si mesmo.
E agora
que sobre ele todo o mal se abate
e sofre
com a devolução das maldades dantes palco
monta outro teatro doloso:
sem entoar as palavras
substitui-as pelo rosto condoído
que suplica por misericórdia.

Enfim
a misericórdia entrou
no catálogo da sua pessoal gramática.

Sem comentários: