Improfícuo
exercício
este exorcismo
sem gente
as mangas
arregaçadas contra a tirania
luas vazias
no sopé da ventania
sem a luz
das candeias amedrontadas
sem o pretérito
por caução
sem os
jogos ambares à espera de vez
sem os
braços contorcidos nas rugas das romãs
só com o
diamante-casulo no bolso dos haveres
e meia
praia suficiente no caudal do olhar.
Alguém protesta:
este lugar
está podre
– e a voz
sem rosto,
perdida no
sargaço da multidão,
não sabe
dizer
se o lugar
está podre
por causa
da gente que assim o medrou,
ou se a
podridão do lugar
trouxe
contágio nas pessoas.
E eu
discordo.
Debato-me
no olhar satélite
procuro a
voz e o rosto seu tiracolo
mas só
vejo rostos indiferentes
rostos iguais
que parecem
murmurar coisas inaudíveis
como se as
palavras-murmúrio
fossem seu alimento.
Discordo:
este não é
um pútrido lugar
nem a sua
gente rima com a malsã condição.
Os alvitres
desassisados:
gente que
se inflaciona
em estatuária
que com ela não quadra
exige excessos
no exterior de si
quando se
olvida
de ter
como seu semelhante critério.
Discordo do
excruciante julgamento:
este é um
lugar belo
feito de gente
bela
feito por
gente cobalto
gente imensamente
rica,
da riqueza
que não ofende os marxistas,
instruída
voraz
deliciosamente
mordaz
sorridente
culta gente
culta.
Os notáveis
sorumbáticos da espécie
peritos em
madraços olhares
não sabem
contar
a textura das palavras que entoam.
Em derradeira
hipótese
sobra o caso,
no trejeito
das possibilidades,
de eles
serem os patronos da podridão
e
em tal
caso
de se furtarem
à regra dos demais.
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