24.10.17

Ponto e vírgula

De vez em quando
nos preparos da meditação
(elucubrações em erosão)
desalinhava o astrolábio adestrado
e perguntava:
é insondável o santuário da melancolia
onde se guardam
os subsídios do seu oposto?

Os capitães de navios viajados
oferecendo inestimável experiência
subindo ao altar do conhecimento
declaravam nada saber
outros nada dizer
(talvez guardando
egoístas
a quimera para seu alpendre
talvez escondendo-a para memória futura).
Eram tagarelas de um silêncio pungente.

Às vezes
procurava uma mnemónica sem lacunas
a estrada pura
o pano desembaciado de lágrimas
gente sensível em mares lavados
gatos vadios não furtivos
as chaves enferrujadas e,
todavia,
chaves;
a nudez das palavras cruas.
Procurava acasalar as arcadas da noite
e em lúgubres pesares
depor as estrelas infundadas
trevas disfarçadas de estrelas
no equinócio fosco das congeminações tardias.

Afinal
talvez não fosse existente a demanda
e nada fosse a procura,
ou um nada imenso, vago,
mesmo sabendo
do pouco que às certezas era cais.

Fugi
para a lonjura de um tempo cortês
dando a mão a janelas sem vidro
e pasos doble em desajeitado desafio.

Não quis perder.
Não quis
perder-me de mim.

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