14.10.17

Manifesto contra a resignação

Estorno intencional
rimando com a chuva lateral
no rosto desfigurado por balas furtivas
as balas no acaso da rivalidade alheia. 
Antes fosse oco o rosto
vazios os olhos testemunhas
e nas páginas sobrassem,
ausentes,
palavras esquecidas.
Às vezes
a alquimia atira-se contra nós
perfazendo um rumor lancinante
transgredindo as fronteiras,
as margens inertes,
à prova de invasões.
Desfigurado,
o rosto não se refugia
nos contrafortes da melancolia;
podia ser pior:
podia uma montanha inteira desabar
ou o mar transbordar e em sua fúria
gente consigo levar
ou o desamor ciciar o seu trunfo
no rio seco onde tem leito a alma
ou apenas
à morte ter soçobrado.
A fina fímbria que da luz irradia
quis outro fado.
Temos por dado
o que nos assenta nas mãos:
e isto não é resignação.

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