13.10.17

Torre do Tombo

Acerto o relógio pelo rascunho da manhã
tomado pela indolência seminal
olhos estremunhados no inverosímil nevoeiro.
Carrego as resmas de papel gasto
e mantenho a mnemónica jura
de sua imperativa destruição:
não tem cabimento o arquivo compulsivo:
se quase todos os papeis
não terão a bênção de revisita
qual a tenção de sua guarda?

Afinal é só um pesadelo.

Os quartos não estão açambarcados por entulho
numa ordem algo desajeitada
mas ordem,
contudo.

Era um pesadelo:
A casa sombria
acanhada
o odor impregnado
mistura de naftalina e dos ácaros residentes
nos papeis empilhados
no travejamento da parede circunspeta.
Os proventos achados no decorrido
são apenas a fina camada da memória.
Às vezes,
um estorvo pelo tempo tomado;
outras vezes,
o subtil pretexto para anestesiar o presente.

Pela parte que me compete
já decretei
com força de interior lei
a extinção dos arquivos
por excessivo peso no corpo que se quer vago,
condenados (os arquivos)
ao líquido degredo da carência.

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