Dou de mim
o
insubmisso
a cor sem asas
as mãos trespassadas
de amor
as
palavras-crisálida
a fonte
sem finitude
o navio
sem sono
o gato
treslido
a porta
sem chave, entreaberta
o armário
sem fundo
a sede do
suor cansado.
Dou de mim
prédicas sem
ouvintes
viveiro inesgotável
facas sem
gume, mansas
flores diuturnas
o fato dandy
ideias sem
norte
ideias sem
sorte
pianos delicodoces
hábitos
sem açaime
o tremeluzente
predicado da alma.
Dou de mim
o que de
mim vier em legado
sem pejo
sem o
cotejo da saliva acidulada
apenas a
redenção acautelada
e páginas
a eito, devoradas
lauto amesendar
no ermo neófito
onde se
depõem armas espúrias
se colhem
morangos do bosque
e danço os
poemas anelados.
Dou de mim
o mais
fundo
medula inteira
olhos às
vezes marejados
outras,
embaciados
e um gesto
de ternura
no coalhar
do rosto à espera.
Dou de mim
estrofes desarranjadas
o caos com
ordem
ou a ordem
embebida no caos
montanhas alinhadas
no firmamento
os dedos
contando os dias por fazer
e as memórias
alinhadas no cadafalso.
Dou de mim
alma pura
ou impura
– não interessa.
Dou de mim
a inteireza
balbuciada nas cinzas remanescentes
por entre
mundos sem limite
ondas que
crescem nos braços do mar
numa
revolta por dentro
e o sangue
em ebulição
irreprimível
contra as
paredes meãs
esventrando-as
estilhaçando-as
em poeira sem uso.
Dou de mim
o proveito
da noite
em apalavradas
estrofes sem juramento
no galope
estridente de cavalos sem eira
até que
tudo o sono cubra com seu regaço
e paisagens
de veludo,
por entre
os olhos baços
sem lágrimas
por perto,
vistam as
mais solenes fazendas
para se
celebrar
o eu que dou
de mim.
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