Dou
o ouro que há em mim
sem
a água rasa das minas
com
as lágrimas engolidas de fiada
com
o pé largo do mundo sem rasuras.
Grito.
Grito
surdamente
como
se o grito deslaçasse o fio negro
e
as botas aprumadas no caudal
se
revezassem na orla estimada dos céus.
Mergulho
a cabeça na água
como
se isso fosse predicado
como
se fosse segredo em danças sem sal
em
provectas imagens de uma claridade rara.
Dou
as mãos às algibeiras
pois
parece que,
tementes,
precisam
de se abrigar do frio madraço.
Não
acabo sem perguntar
às
lombadas alinhadas
desde
o sofá solitário
se
os arranjos do tempo explicam os acidentes
as
cósmicas congeminações à margem de deuses
as
árvores nuas no inverno sem luz
os
rios aparatosos no coice da chuva imparável
a
noite anestesiada
o
rombo nas páginas enrugadas
a
contrassenha dos segredos sem segredo
a
tiragem contínua de uma ideia gasta
a
romagem ao cemitério das rotinas
o
fausto de caudilhos de si mesmos
o
ar pesado nas imediações das fábricas.
Grito
outra
vez
sem
me ouvir.
Grito
às ruas por onde arrasto o corpo
mesmo
sem saber se as ruas se importam
se
os deuses que guardam o tempo
se
importam.
Se
ao menos
não
tivesse dado
o
ouro que se guarda em mim
hoje
seria a misericórdia da miséria.