20.7.17

Basalto

A lente gasta
trava o olhar. 
Nem a impaciência
murmura as dores rudimentares
na varanda do baço conhecimento. 

Pedras no sapato,
diriam os ainda penhores da lucidez
não fosse a lucidez impossível
por furtivas contrariedades à vontade. 

Qual foi o pretérito equinócio
que acendeu as contrariedades?
A lente gasta
profundamente baça
quase como se jogasse à cabra cega. 
Qual foi o pretérito equinócio
que contraiu a lente baça?
Um enigma 
mal disfarçado de enigma:
à falta de miopia
as lentes precisas não são. 
Sem lentes para repousar o olhar
qual o pretérito equinócio
que arregimenta o caos assim ungido?

A falta de vontade
ou
os olhos embaraçados pela vetusta acrimónia
ou
os olhos desembaraçados das vulgatas de antanho
ou 
a folhagem desprendida da tempestade
atirando areia aos olhos
assim já não ancorados. 

Sem os néctares por companhia
hipotecado por uma cegueira estulta
atira os papéis sem serventia
para a fogueira que empresta luz. 
Há um cansaço que se adia
pelo tempo fora
uma falsa valsa sem coreógrafo
o fastio de barriga cheia
a maré das contrariedades depostas
a maré das contradições em ebulição.

Já não repousam os olhos
sob a lente indulgente:
dessa carestia não padecem
resplandecentes
ufanos
humildes pescadores
no mar imenso sem horizonte à vista.

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